A História de Sorocaba
Os 350 milhões de anos de Sorocaba
Adolfo Frioli
A História de Sorocaba parece que é recente, por causa da nossa forma de viver o presente, ou quando muito, o futuro imediato. Mas, se a nossa preocupação passar para o campo científico, vamos perceber que algo aconteceu antes de nossos tempos. O passado longínquo de quase 350 milhões de anos - período da formação geológica da bacia do rio e do relevo da região de Sorocaba - apesar de todo o progresso, ainda interfere em nosso modo de viver, principalmente com nossa ajuda em mudar constantemente o meio geográfico em que vivemos: a falta de conhecimento do significado das origens dos nomes dos bairros mais antigos, que chegaram-nos a partir dos indígena e com as alterações do tempo, como é o caso do próprio nome da cidade, que veio do rio e que por sua vez procede do fenômeno da erosão do solo, provocada pela água das chuvas. A isso, os tupis que habitavam nossas matas, chamavam de ybysorog, que passou a vossoroca e, finalmente a Sorocaba.
A tradução é clara - terra rasgada ou simplesmente, buraco. Daí a necessidade em se conhecer um pouco da primeira língua aqui falada, mas aonde? Na escola? Não, mas na História de Sorocaba, porque quando os primeiros portugueses que chegaram à nossa região, ainda não falavam o português de hoje, mas sim uma mistura de latim com as línguas ibéricas e assim, ficou mais fácil falar a língua indígena, até mais ou menos em 1720.
A paragem cresceu entre a ponte sobre o rio, a casa-grande do fundador Baltasar Fernandes e de sua capela no alto da colina, dedicada a sua padroeira - Nossa Senhora da Ponte - conforme o primeiro documento escrito, em que aparece a palavra Sorocaba, que foi no testamento e inventário de Isabel de Proença, a segunda esposa do fundador em 28 de novembro de 1654.
A paragem passou a Vila em 3 de março de 1661, mas os primeiros sorocabanos, continuaram bandeirantes, como seus pais e avôs - percorreram a pé os sertões brasileiros, esticaram as fronteiras a oeste, ampliando nossas fronteiras e fundaram povoações, como Cuiabá em 1719, hoje Capital do Estado de Mato Grosso. Mas, a Vila só foi crescer e aparecer no segundo ciclo econômico - o do tropeirismo (1733 a 1897), quando por aqui passaram milhares de muares procedentes dos pampas gaúchos em direção das Minas Gerais. Mudou-se o sistema de transporte e em cada pouso, nasceu uma cidade e a região Sul integrou-se ao Brasil de hoje.
As feiras de muares atraíram muitos negócios e o comércio logo transformou-se em indústrias, a princípio artesanais, mais tarde, para orgulho dos sorocabanos, com as chaminés fumegantes e as locomotivas da Sorocabana, trouxeram os imigrantes italianos, espanhóis e de outras nacionalidades. Em 5 de fevereiro de 1842, a Vila passou à Cidade de Sorocaba, nome que encontramos apenas nos ônibus urbanos. A região foi diminuindo até chegar nos limites de hoje, deixando sete filhas: Itapeva, Itapetininga, Apiaí, Araçoiaba da Serra, Piedade, Salto de Pirapora e Votorantim e mais de duas centenas de outros municípios.
As chaminés apagaram, foram substituídas por altas caixas d’água, nas novas indústrias metalúrgicas. Até 1952, a data de comemoração para a fundação de Sorocaba mudou bastante. Sabia-se o ano 1654, mas não se conhecia ainda aquele testamento e portanto não se sabia o dia e o mês com exatidão. Surgiu uma idéia, que foi oficializada - nada melhor do que a nova data litúrgica para a comemoração do dia da padroeira - 15 de agosto. Da idéia, passou-se a lei que convencionou como data da fundação de Sorocaba o dia 15 de agosto de 1654.
Em 1954 comemoramos os 300 anos e nestes 50 anos, o comércio ampliou-se de pequenos armazéns, a supermercados, hoje, hipermercados de âmbito regional. Praticamente como o crescimento da cidade, até a própria vida mudou. A preocupação com o crescimento, sempre foi uma constante, mas agora o espaço ficou menor e para ser ocupado, deve ser repensado muito bem.
A “história é a mestra da vida” afirmou o pensador romano Cícero, nos bons tempos de Roma, e é justamente à essa ciência que devemos nos apegar cada vez mais, porque sem ela, não haverá presente, muito menos futuro. Foi assim que participei com muito entusiasmo do projeto da Fundação Ubaldino do Amaral, do jornal Cruzeiro do Sul e de sua maravilhosa equipe de funcionários, que trabalharam durante seis meses, para trazer semanalmente, aos leitores do jornal e sorocabanos interessados em conhecer o seu passado, durante 20 domingos, aos sorocabanos em geral, toda essa epopéia dos quase 350 milhões de anos.
Adolfo Frioli, fotógrafo, historiador e museólogo.
Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul.